Encontro em Barbacena relembra história do Hospital Colônia e discute futuro da saúde mental

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Mais de 60 mil pessoas morreram de frio, diarreia, fome, tortura e eletrochoque entre os anos 1930 e 1980 no antigo manicômio, que foi desativado na década de 1990. Segundo estimativas, 70% dos internados não tinham nenhum sofrimento mental

 O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), por meio do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça de Defesa da Saúde (CAO-Saúde) e do Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional (Ceaf), promoveu nesta terça-feira, 27 de maio, o evento “Holocausto Brasileiro: memórias, lutas e o futuro da saúde mental”, em alusão ao Dia Nacional da Luta Antimanicominal, celebrado em 18 de maio. 

O encontro contou com a palestra “Os bastidores do Holocausto Brasileiro: a luta antimanicomial, avanços e riscos de retrocessos”, proferida pela jornalista mineira Daniela Arbex, autora do livro “Holocausto Brasileiro”. Em seguida, houve a transmissão do documentário homônimo, produzido a partir do livro de Daniela e dirigido por ela.

Na abertura do evento, a promotora de Justiça Giovana Carone Nucci Ferreira, coordenadora do CAO-Saúde, ressaltou que a causa da luta antimanicomial carrega memórias de dor, resistência e esperança. “Cada pessoa que ou pelos horrores dos antigos manicômios nos convoca a manter viva a luta pela dignidade, pelo cuidado e pela liberdade”, afirmou Giovana, lembrando que a reforma psiquiatra e a luta antimanicomial representam um marco civilizatório na saúde mental no Brasil.

Ela enfatizou que o Ministério Público, por meio do CAO-Saúde, tem papel essencial na defesa de políticas públicas que garantam o cuidado, a liberdade, o respeito à cidadania e a autonomia em sofrimento psíquico. Giovana destacou ainda a necessidade de fortalecer a Rede de Atenção Psicossocial (Raps), do Sistema Único de Saúde (SUS).

Para o coordenador pedagógico do Ceaf, promotor de Justiça Leonardo Barreto Moreira Alves, a história dos antigos manicômios que existiram no Brasil serve como uma reflexão daquilo que deve ser combatido. O chefe de Gabinete da Procuradoria-Geral de Justiça, promotor de Justiça Francisco Chaves Generoso, destacou a importância da discussão sobre saúde mental.

Holocausto brasileiro

Durante sua palestra, a jornalista Daniela Arbex contou os bastidores do trabalho de investigação jornalística que deu origem ao livro “Holocausto Brasileiro”, que fala sobre o Hospital Colônia de Barbacena, onde morreram mais de 60 mil pessoas entre 1930 e 1980. “As pessoas morreram de fome, diarreia, tortura, frio e eletrochoque. Foi um extermínio”, destacou Daniela, informando que 1857 corpos foram vendidos para diversas faculdades de medicina no Brasil. Segundo estimativas, cerca de 70% das pessoas internadas não tinham nenhum sofrimento mental. 

A unidade hospitalar foi criada em 1903, em Barbacena, no Campo das Vertentes, para 200 vagas, mas chegou a reunir, numa mesma época, mais de cinco mil pessoas. Entre os internados, segundo Daniela, 80% eram negros. Também havia pobres, moças que tinham perdido a virgindade, crianças, opositores políticos, pessoas em situação de rua. Todos chegavam de trem, num vagão exclusivo para ‘doidos’, como disse, no documentário, o maquinista que fazia as viagens na época. “Em grande maioria, eram pessoas excluídas pela sociedade”, acrescentou a jornalista. 

Daniela contou que decidiu investigar o caso do Hospital Colônia em 2011 depois de ter o a fotos do local, que mostram as condições precárias de vida dos internados. Nas imagens, eles aparecem nus e muito magros pelos pátios, os homens estão de cabeça raspada, alguns sujos, outros deitados e encolhidos no chão. Ela revelou ter ficado intrigada com as imagens que já possuíam 50 anos e, mesmo assim, muitas pessoas da geração dela não conheciam a história do manicômio de Barbacena. 

Foi então que ela procurou os sobreviventes, conversou com ex-funcionários, consultou o Arquivo Público Mineiro, apuração que resultou na publicação de seu livro, em 2013, e na produção de documentário, estreado em 2016.

Uma das histórias contadas por Daniela no documentário é a do José Carlos, que descobriu que sua mãe tinha vivido no antigo manicômio. A descoberta ocorreu, por acaso, quando ele a viu em uma foto que ilustra o livro da jornalista. Nos registros do hospital, ele encontrou a entrada da mãe no local em 1956, como indigente, e soube que o próprio pai dele tinha levado a esposa pra lá. O motivo da internação foi o envolvimento do pai com uma vizinha, que se tornou madrasta. Depois da morte do pai, José Carlos foi colocado pra fora de casa pela madrasta, quando tinha apenas 9 anos de idade. Ele viveu nas ruas até os 18 anos. 

Com informações: MPMG.

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