Durante o período da Quaresma, o silêncio das ruas históricas de São João del-Rei, na Região Geográfica Intermediária (RGInt) de Barbacena, é rompido por cânticos entoados em latim e muitas orações. Há mais de dois séculos o Cortejo de Encomendação de Almas é realizado durante a madrugada, percorrendo sete igrejas e cemitérios da cidade. Uma tradição de fé mantida em poucas cidades no Brasil.
O percurso é realizado nas sextas-feiras da quaresma, aglomerando-se nos portões dos cemitérios do centro histórico. A batida na madeira da matraca simboliza a cruz e anuncia o início das orações. Quem conduz os cristãos não é um padre, mas um leigo mais velho que puxa o terço durante todo o trajeto e, nas sete paradas de cada Encomendação, faz orações – ora em latim, ora em português – como a chamar as almas e entregar-lhes cantos, lembranças, lamentos e orações.
As Via Sacras
Outra tradição peculiar é a Via Sacra Pública com orações nos “inhos”, uma espécie de oratório espalhado na cidade. O rito, que faz parte das Comemorações dos os, é realizado nas noites de sexta-feira, durante a quaresma, e recorda o Calvário de Cristo e seus últimos os rumo ao Calvário. A celebração é conduzida por músicas do século XIX no centro histórico.
Durante a caminhada dos fiéis é possível acompanhar os “Motetos dos os”, de autoria do Maestro Martiniano Ribeiro Bastos, assim como o “Misere”, da autoria de Manoel Dias de Oliveira, executado ao final da Via Sacra. “Os Motetos dos os são composições aqui mesmo de São João del-Rei. Eles versam sobre o tema específico de cada inho e são parte da identidade e da peculiaridade da cidade”, explica Monsenhor Geraldo Magela da Silva, pároco da Paróquia da Catedral Basílica Nossa Senhora do Pilar.
Segundo sacerdote, a Via Sacra é uma demonstração de fé que ajuda os cristãos a relembrarem o Calvário de Cristo. “É tão interessante, na Via Sacra, que três personagens aparecem para ajudar: Maria, que no encontro com seu filho Jesus o fortalece na caminhada; Verônica, que enxuga o seu rosto; e Simão Cirineu que o ajuda a carregar a cruz. Ao contemplar a Paixão de Cristo na paixão de tantos irmãos, nós queremos ser uma presença solidária na vida deles, ajudando-os a carregar a cruz”, conclui.
São 14 estações que lembram estes momentos dramáticos, desde o tribunal presidido por Pôncio Pilatos até o Monte Calvário, lugar da crucifixão.

Com informações: Lucas Silveira/Diocese São João del-Rei.