De 21 a 25 de maio, a charmosa cidade de Tiradentes será palco da 12ª Mostra de Artes Cênicas Tiradentes em Cena, única mostra de artes cênicas da região das Vertentes. Com o lema “um palco de todos nós”, a Mostra reafirma seu compromisso com a diversidade, a ocupação dos espaços e o o à cultura. Nesta edição, apresenta uma programação plural que contempla teatro, dança, circo, música, exposição, roda de conversa e gastronomia. Ao todo, cerca de 50 atrações serão apresentadas em mais de 15 espaços de Tiradentes e São João del Rei. A expectativa é receber um público de aproximadamente 20 mil pessoas. Além das apresentações teatrais, o evento se destaca por iniciativas que promovem a formação de público, o encontro de saberes e a ocupação criativa da cidade, com ações que vão além dos palcos, como as oficinas formativas, o projeto Cena Encontro e a dinâmica Venda Seu Peixe, que conecta artistas e programadores culturais de diferentes partes do país.
No dia 21 de maio, a Mostra tem sua pré-abertura com o espetáculo Tom na Fazenda, um fenômeno da cena teatral contemporânea. Com mais de 300 apresentações no Brasil e no exterior, a montagem arrebatou público e crítica, consolidando-se como um marco do teatro nacional. Com um cenário minimalista, elenco enxuto e um texto instigante e provocador, Tom na Fazenda combina potência cênica, dramaturgia afiada e atuação de alto nível.
Nesta edição, o Tiradentes em Cena presta homenagens especiais ao Grupo de Dança Primeiro Ato e à atriz e cantora Simone Mazzer, celebrando suas trajetórias singulares nas artes cênicas brasileiras. Com mais de 40 anos de história, o Primeiro Ato é reconhecido por sua linguagem contemporânea e por sua contribuição marcante à cena cultural do país. A abertura oficial da mostra acontece na quinta-feira, 22 de maio, às 19h, no Palco Principal montado na Rodoviária de Tiradentes, com a apresentação do espetáculo “Como Água”, da companhia. Na mesma noite, às 21h no Palco SESC, o público poderá conferir o talento multifacetado de Simone Mazzer, artista com agens memoráveis pela Armazém Companhia de Teatro e uma carreira premiada no teatro, cinema e música, em “Simone Mazzer em cena”, performance que promete emocionar pela intensidade e entrega da artista.
A curadoria da Mostra é assinada por Aline Garcia, idealizadora do projeto, em colaboração com Magna Oliveira — mestre em Educação e coordenadora do projeto de extensão da UFMG “Iranti – Ser África” — e Vinicius Cristóvão, ator, pesquisador e mestre em Teatro. O processo curatorial foi construído de forma coletiva e sensível ao presente, a partir da análise de 472 propostas recebidas de todas as regiões do país. Deste universo, emergiu um recorte diverso, conectado às urgências contemporâneas e à pluralidade das artes cênicas brasileiras. “A programação foi construída com escuta ativa e foco no pertencimento, para convidar o público a viver a cidade como palco vivo de memórias, afetos, encontros e provocações. Em tempos de incerteza e reconfiguração social, o Tiradentes em Cena reafirma a arte como território de resistência, partilha e construção coletiva”, afirma Aline Garcia.
Com montagens de diferentes regiões do país, a Mostra Tiradentes em Cena amplia seu alcance artístico e territorial, fortalecendo conexões e promovendo o intercâmbio entre criadores, obras e plateias de múltiplas origens. “Celebramos também novas conquistas geográficas que ampliam a atuação da Mostra: receberemos um espetáculo de Fortaleza, com o Grupo Magnólia, e uma oficina e espetáculo vindos de Igarassu, Recife. Avanços que representam a quebra de barreiras”, explica Aline Garcia.
Temas urgentes e tradições populares ganham palco em Tiradentes
As montagens selecionadas refletem o espírito do nosso tempo, abordando temas profundamente atuais e necessários: da memória da ditadura militar — um dos períodos mais violentos da história do país — ao racismo estrutural, feminismo, ancestralidade, homofobia, intolerância religiosa e a urgência das questões ambientais. Em meio a esses debates fundamentais, a Mostra também celebra as raízes culturais brasileiras, valorizando expressões populares como o circo, o folclore e os mamulengos — forma tradicional do Teatro de Bonecos do Nordeste, recentemente reconhecida como Patrimônio Cultural do Brasil pelo IPHAN. Pela primeira vez, a programação traz um espetáculo musical infantil em palco aberto: O Tubarão Martelo e os Habitantes do Fundo do Mar, uma jornada lúdica que une música, consciência ambiental e diversão para toda a família.
“Zona de Sacrifício” com Carolina Correa Estreia na Mostra Tiradentes em Cena: reflexão sobre a mineração em Minas Gerais
O espetáculo Zona de Sacrifício, solo da atriz e diretora Carolina Correa, com direção e dramaturgia de Lara Duarte, faz sua estreia em Minas Gerais na Mostra. A obra teve ensaio aberto em São Paulo em março, estreou oficialmente em Estrasburgo (França) no Théâtre Quai de Scène e foi apresentada em abril no Festival Hecho en Chile, em Santiago. A apresentação em Tiradentes marca a primeira apresentação do espetáculo no estado onde se concentra a investigação temática da montagem: os impactos sociais e ambientais da mineração.
Zona de Sacrifício reúne relatos, pesquisa de campo e elementos cênicos para abordar questões urgentes relacionadas ao extrativismo, aos acionamentos de sirenes de barragens e à vulnerabilidade das comunidades atingidas.
Festival investe em circulação, formação de plateia e presença de grupos premiados
O renomado Grupo Pavilhão da Magnólia, de Fortaleza (CE), apresenta o espetáculo Maquinista. O grupo tem se destacado nacionalmente por sua pesquisa de linguagem cênica, que transita entre diferentes formas de expressão teatral, explorando múltiplas possibilidades poéticas e performáticas. Com uma trajetória consistente e mais de 1.200 apresentações em diversas regiões do Brasil, o grupo foi vencedor do Prêmio Shell de Melhor Direção pelo espetáculo A Força da Água, consolidando-se como uma das referências do teatro contemporâneo brasileiro.
Já a iniciativa “Venda Seu Peixe” propõe um encontro entre artistas e programadores culturais de diferentes partes do Brasil. Inspirada em rodadas de negócios, a ação tem formato adaptado ao campo das artes cênicas e busca fomentar redes de circulação, visibilidade e sustentabilidade para os projetos. A ação vai promover conexões diretas entre artistas da Mostra e mais de 15 programadores convidados de festivais e espaços culturais de todo o Brasil. A iniciativa busca ampliar a circulação de obras, fomentar o empreendedorismo criativo e fortalecer redes colaborativas, gerando oportunidades concretas no mercado cultura.
Entre as novidades, destaca-se ainda a presença do programa Mirante, do CENEX/FALE/UFMG, que irá realizar a mediação cultural em diversas iniciativas da programação do Tiradentes em Cena. O Programa Mirante desenvolve ações, por meio de projetos e cursos, que visam à ampliação, diversificação e qualificação do público de teatro. Centrado em formar novas plateias e valorizar o ato da expectação teatral, o programa realiza atividades que coloquem o espectador no eixo da reflexão.
Saberes, criação e ancestralidade em foco na programação formativa
Apostando na formação como uma potente ferramenta de transformação social, o Tiradentes em Cena oferece uma programação que valoriza a troca de saberes, a escuta ativa e a construção coletiva. As atividades formativas desta edição incluem a tradicional Oficina de Mamulengo com Mestre Antero (PE), que compartilha os saberes do teatro de bonecos popular nordestino, reconhecido por seu humor, crítica social e força poética.
A oficina “Dramaturgia de criação: corpo, palavra e espaço”, conduzida pelo grupo Mapa Teatro e Outras Linguagens, propõe uma imersão criativa — explorando a construção cênica por meio do movimento, da escrita e da composição espacial. Já a oficina “Danças Afro-brasileiras: memórias, ritmos e corporeidades”, ministrada pelo artista e educador Evandro os, convida o público à vivência de ritmos e gestos que compõem a herança afro-brasileira, ampliando o repertório corporal e fortalecendo identidades por meio da dança e da ancestralidade.
Cena Encontro traz reflexões, redes de colaboração e histórias do teatro brasileiro
A Cena Encontro, parte da 12ª edição do Tiradentes em Cena, promove reflexões e troca de experiências. De 22 a 25 de maio, a série de atividades formativas reúne artistas, pesquisadores, gestores e educadores para debater temas essenciais como internacionalização, narrativas negras, mediação cultural e empreendedorismo.
A programação começa no dia 22 com a roda de conversa “Internacionalização das Artes da Cena”, mediada pela atriz e diretora Carolina Correa, com a participação de Juliana Mota (UFSJ), Paula Senna (FMC-BH), Veronica Tapias e Paly Pavez (Chile), e Sylvia Sanchez (Bolívia). No dia 23, o jornalista Miguel Arcanjo Prado lidera o encontro “Empreender na Cultura”, compartilhando sua experiência com a crítica teatral e a cultura digital.
No dia 24, o encontro “Aquilombar: Narrativas e a Produção das Artes da Cena Negra” no Instituto Rouanet reúne Magna Oliveira (UFMG), Kymane Luzia (UFSJ), Fernanda Nascimento (Teatro da Pedra) e Altemar Di Monteiro (UFMG/Nóis de Teatro) para discutir práticas e pedagogias afrocentradas. Ainda no dia 24, no Museu Padre Toledo, o programa Mirante promove um debate sobre a formação de espectadores e o papel da mediação cultural. No mesmo dia, a Casa do Sino recebe o encontro “Corpo, Cena e Inconsciente”, que propõe um diálogo entre teatro e psicanálise.
A Cena Encontro se encerra no dia 25 com Cacá Mourthé, atriz e diretora do Teatro O Tablado (RJ), que compartilhará sua trajetória e os bastidores da pedagogia teatral brasileira, abordando o legado de Maria Clara Machado e a resistência no teatro. Uma reflexão sobre a formação e memória no cenário teatral do Brasil.

Com informações: Divulgação/foto: Januário Basílio.